Para chegar à sua essência, é preciso articular conceitos diversos, da filosofia à matemática, passando pela neurolingüística
por Paulo Seleghin Junior
A construção de máquinas inteligentes fascina a humanidade desde tempos imemoriais. Entretanto, apenas recentemente, com o surgimento do computador moderno, é que a inteligência artificial ganhou meios e massa crítica para se estabelecer como ciência
integral, com problemáticas e metodologias próprias. Desde então, seu desenvolvimento tem extrapolado os clássicos programas de xadrez ou de conversação e envolvido áreas como visão computacional, análise e síntese da voz, lógica difusa, redes neurais artificiais e muitas outras. Consolidou-se a idéia de que uma inteligência essencialmente humana, porém artificial, poderia emergir da integração de um grande número desses programas, implementados numa arquitetura de processamento especial, possivelmente inspirada no funcionamento das células de nosso cérebro.
Desse ideário surgiram as fantásticas histórias de Isaac Asimov, cujos robôs e seus cérebros "positrônicos" eram eternos e possuíam aptidões super-humanas. E, de fato, isso foi feito; algoritmos extremamente complexos foram implementados em máquinas de altíssimo poder de processamento e capacidade de memória, porém com resultados modestos diante das expectativas originais. Hoje é aceito que essa abordagem conduz a uma inteligência sintética em essência, e não artificialmente humana, refletindo apenas um subconjunto das habilidades intelectuais dos pesquisadores envolvidos no trabalho. Isso decorre de uma questão ainda não resolvida: o que é inteligência? Provavelmente uma resposta satisfatória só poderá ser obtida articulando-se conceitos de natureza filosófica e conhecimento de áreas tão distintas quanto a matemática computacional e a neurolingüística, o que necessariamente implica descrever nossa inteligência em todas as suas dimensões.
Mas, polêmicas à parte, a inteligência sintética certamente representa uma das grandes realizações científicas de nosso tempo, capaz de modificar profundamente as sociedades tecnológicas da atualidade. Essas modificações ocorrerão à medida que desenvolvimentos concorrentes em áreas como a microeletrônica e novos materiais forem associados aos algoritmos da inteligência sintética, não para reproduzir a inteligência humana, mas para obter máquinas e sistemas dotados de aptidões inteligentes. Um bom exemplo disso são as chamadas línguas eletrônicas, desenvolvidas para "degustar" produtos químicos e determinar sua composição, da mesma forma como faria um degustador humano numa vinícola ou numa torrefação. Este degustador eletrônico poderia ser instalado em bombas de abastecimento de combustível para fins de controle da qualidade (ligado à internet permitiria uma blitz virtual) ou em veículos multicombustível, que poderiam se adaptar a uma gama muito maior de misturas (diferentes tipos de óleos vegetais, por exemplo). Da mesma forma, toda uma cidade poderia ser controlada por um sistema especialista inteligente que, a partir da identificação de padrões de comportamento de seus moradores, poderia, entre muitas outras coisas, adequar os períodos dos semáforos de forma a otimizar o trânsito ou operar as bombas de abastecimento de água em horários em que o custo da energia elétrica é menor.
Longe da ficção, experiências-piloto mostram que os benefícios podem ser extremamente significativos em termos de redução de emissões poluentes e de congestionamentos, com toda uma miríade de conseqüências positivas, além de redução global de custos operacionais. As possibilidades são muitas e nossa imaginação é o limite.
Paulo Seleghin Junior É professor do curso de Engenharia Mecatrônica e pesquisador do Núcleo de Engenharia Térmica e Fluidos da USP de São Carlos.
Scientific American Brasil
por Paulo Seleghin Junior
A construção de máquinas inteligentes fascina a humanidade desde tempos imemoriais. Entretanto, apenas recentemente, com o surgimento do computador moderno, é que a inteligência artificial ganhou meios e massa crítica para se estabelecer como ciência
integral, com problemáticas e metodologias próprias. Desde então, seu desenvolvimento tem extrapolado os clássicos programas de xadrez ou de conversação e envolvido áreas como visão computacional, análise e síntese da voz, lógica difusa, redes neurais artificiais e muitas outras. Consolidou-se a idéia de que uma inteligência essencialmente humana, porém artificial, poderia emergir da integração de um grande número desses programas, implementados numa arquitetura de processamento especial, possivelmente inspirada no funcionamento das células de nosso cérebro.
Desse ideário surgiram as fantásticas histórias de Isaac Asimov, cujos robôs e seus cérebros "positrônicos" eram eternos e possuíam aptidões super-humanas. E, de fato, isso foi feito; algoritmos extremamente complexos foram implementados em máquinas de altíssimo poder de processamento e capacidade de memória, porém com resultados modestos diante das expectativas originais. Hoje é aceito que essa abordagem conduz a uma inteligência sintética em essência, e não artificialmente humana, refletindo apenas um subconjunto das habilidades intelectuais dos pesquisadores envolvidos no trabalho. Isso decorre de uma questão ainda não resolvida: o que é inteligência? Provavelmente uma resposta satisfatória só poderá ser obtida articulando-se conceitos de natureza filosófica e conhecimento de áreas tão distintas quanto a matemática computacional e a neurolingüística, o que necessariamente implica descrever nossa inteligência em todas as suas dimensões.
Mas, polêmicas à parte, a inteligência sintética certamente representa uma das grandes realizações científicas de nosso tempo, capaz de modificar profundamente as sociedades tecnológicas da atualidade. Essas modificações ocorrerão à medida que desenvolvimentos concorrentes em áreas como a microeletrônica e novos materiais forem associados aos algoritmos da inteligência sintética, não para reproduzir a inteligência humana, mas para obter máquinas e sistemas dotados de aptidões inteligentes. Um bom exemplo disso são as chamadas línguas eletrônicas, desenvolvidas para "degustar" produtos químicos e determinar sua composição, da mesma forma como faria um degustador humano numa vinícola ou numa torrefação. Este degustador eletrônico poderia ser instalado em bombas de abastecimento de combustível para fins de controle da qualidade (ligado à internet permitiria uma blitz virtual) ou em veículos multicombustível, que poderiam se adaptar a uma gama muito maior de misturas (diferentes tipos de óleos vegetais, por exemplo). Da mesma forma, toda uma cidade poderia ser controlada por um sistema especialista inteligente que, a partir da identificação de padrões de comportamento de seus moradores, poderia, entre muitas outras coisas, adequar os períodos dos semáforos de forma a otimizar o trânsito ou operar as bombas de abastecimento de água em horários em que o custo da energia elétrica é menor.
Longe da ficção, experiências-piloto mostram que os benefícios podem ser extremamente significativos em termos de redução de emissões poluentes e de congestionamentos, com toda uma miríade de conseqüências positivas, além de redução global de custos operacionais. As possibilidades são muitas e nossa imaginação é o limite.
Paulo Seleghin Junior É professor do curso de Engenharia Mecatrônica e pesquisador do Núcleo de Engenharia Térmica e Fluidos da USP de São Carlos.
Scientific American Brasil
Olá Marculino,
ResponderExcluirinteressante texto..sempre fui fascinado por esse tema..máquinas inteligentes aumentam o nível de segurança das pessoas em todos os sentidos..sou fã de Isaac Asimov e do pesquisador e escritor Marvin Minsky, papa da inteligencia artificial...entre outros.
Irmão, abraços e boa semana
Bem interessante seu blog!!!
ResponderExcluirPara lá desta janela sincera
ResponderExcluirMora a luz radiosa, inconstante
Esta Lira liberta uma breve melodia
Que a brisa carrega adiante
Passos amedrontados
Olhos abertos sem vida, sem fervor
Sons mais que mil e muitos
Máscara da ironia de Deus superior
Bom fim de semana
Abraço