sexta-feira, 3 de abril de 2009

História na Internet - Manual do usuário


Nem sempre o recurso de “copiar e colar” nas pesquisas de História na Internet atrapalha o aprendizado
Antonio Germano Magalhães Junior

“Este trabalho é uma cópia retirada da Internet!” Esta frase está cada vez mais presente no cotidiano das escolas brasileiras. A utilização de tecnologia na educação é um tema já bastante explorado em diversos simpósios, pesquisas e publicações. Os professores reclamam que seus alunos estão copiando seus trabalhos da Internet, mas seria esta uma ação negativa? Depende do que conceituamos como negativo no ensino. Resta perguntar: quais os objetivos das atividades escolares para as quais os alunos utilizam meios eletrônicos?
Os locais de acesso podem ser as casas de jogos eletrônicos, ou lan-houses, os cyber cafés, os laboratórios de informática cada vez mais presentes nas escolas ou, para alguns privilegiados, os computadores em casa. O fato é que as bibliotecas eletrônicas disponíveis na Internet oferecem novos mundos e experiências. E além das visitas virtuais, os chats, de bate-papo, e a criação de espaços particulares ou coletivos pelas homepages disponibilizam múltiplas possibilidades de interação com as novas ferramentas informatizadas.

No cotidiano escolar, encontramos professores dedicados, que passam atividades de pesquisa na área de História tentando estimular seus alunos a manusear diferentes fontes – documentos, jornais e revistas de época, fotografias. Querem aprofundar conhecimentos trabalhados nos livros usados em sala de aula e visam a uma melhor apreensão dos conteúdos, assim como estimular a investigação. Mas é necessário questionar o sentido da tarefa solicitada. Quais as intenções do professor em relação à escolha e à aprendizagem dos conteúdos? Não devemos pedir aos alunos, por exemplo, que façam uma pesquisa sobre “Guerra de Canudos” sem termos clareza sobre a importância do tema, que informações sobre o assunto são fundamentais para sua interpretação e que estratégias utilizaremos para explorar os resultados da pesquisa, a fim de que o trabalho realizado possa ser significativo e prazeroso.

Depois que recebem as tarefas escolares, os alunos preparam suas estratégias para resolver os “problemas” que serão cobrados, e que possivelmente terão influência nos conceitos ou nas notas emitidos pelos professores. Se pensarmos na praticidade que o acesso à Internet proporciona aos que precisam encontrar informações sobre vários temas, não reprovaríamos a atitude dos alunos que buscam bibliotecas virtuais para cumprir seus deveres. Os professores questionam alguns procedimentos utilizados, como colocar o assunto em um site de busca, digitando exatamente o que foi solicitado pelo professor, apertar o botão “busca” e sair olhando – boa parte das vezes, somente olhando – e escolher o que parece responder ao problema da pesquisa. Uma atitude que não parece gerar um processo de aprendizagem, nem ser significativo para o aluno, nem com sentido na perspectiva do professor.

Considerando a praticidade da ação, o trabalho pode ter sido bem cumprido, mas não alcançou os objetivos desejados. O ato de pesquisar está associado à ação de procurar, inquirir, buscar com cuidado, perguntar, investigar com perspicácia. A busca por algo fora de contexto, sem significado, desprovido de um certo teor de desafio, mesmo que utilizando uma ferramenta multimídia, tende a tornar-se desestimulante e enfadonha. Se quisermos proporcionar um momento de curiosidade, associado à aquisição de informações que possam ajudar a melhor compreender a trama dos acontecimentos humanos no tempo, teremos que elaborar atividades de pesquisa que motivem os alunos.


Não queremos trazer “receitas” a serem aplicadas de forma fantasiosa, como algumas vezes encontramos em manuais expostos nas prateleiras das livrarias. O professor deverá construir suas ações metodológicas fundamentadas nas concepções teóricas com as quais concorda e que conhece com propriedade. As atividades de pesquisa temática devem solicitar à turma que estabeleça relações entre dois ou mais temas; assim, dificilmente os alunos poderão copiar exatamente como está na Internet, sendo obrigados a fazer uma leitura atenta dos textos, procurando resolver o problema. Os alunos são estimulados a interpretar o texto, e a partir desta interpretação é que elaboram o trabalho. Mas não devemos deixar de observar as dificuldades enfrentadas e incorporar os conhecimentos construídos através das experiências cotidianas, prática que envolve respeito pelas diferenças e construção coletiva dos saberes. Dessa forma, os alunos assumem o papel de sujeitos no processo de aprendizagem.

Ao consultarmos a Internet sobre um tema como “A Guerra de Canudos”, encontramos uma quantidade astronômica de informações, com frases do tipo: “A guerra de Canudos aconteceu no sertão baiano” e “Antônio Conselheiro era um líder em Canudos”. Mas quais as possíveis relações de significado existentes entre estas duas informações? Chegamos ao ponto central da questão: acumular informações ou construir relações significativas? No conhecimento, é fundamental a capacidade de estabelecer conexões entre informações aparentemente desconexas, processar essas informações, analisá-las, relacioná-las, armazená-las, avaliá-las segundo critérios de relevância, organizá-las em tramas.

Algumas atitudes podem incrementar a utilização da Internet no ensino de História. Inicialmente, a escolha dos problemas deve levar em consideração os temas que mais atraíram a atenção dos alunos durante as aulas e os temas que o professor acredita serem fundamentais para o conteúdo trabalhado, podendo ser considerados também assuntos que estejam associados de alguma forma a temáticas do cotidiano. O trabalho feito em grupos favorece uma interação maior entre os alunos e estimula o debate entre eles, que poderão, coletivamente, resolver os problemas apresentados.

O professor deve escolher o tema que passará a ser central no trabalho e solicitar aos alunos que, utilizando a Internet, associem o tema central a outros. Formamos um conjunto de informações que precisam ser “conectadas”, realizando ligações interpretativas e significativas entre os temas sugeridos. Por exemplo, no caso da “Guerra de Canudos”, pedimos aos alunos que fizessem uma busca na Internet tentando estabelecer uma relação entre o tema central – a referida rebelião – e as palavras “fome”, “religiosidade”, “revolta” e “morte”. As palavras sugeridas passaram a constituir temas e acontecimentos de uma trama que estava sendo interpretada. Uma forma mais instigante de realizar a atividade é substituir as palavras por figuras, poesias, qualquer recurso que represente acontecimentos significativos para o tema central.


Os alunos encontrarão muitas informações sobre o tema apresentado pelo professor, mas, provavelmente, não a resposta ao problema, a relação entre o tema central e as palavras ou outros recursos apresentados para serem usados na construção da trama proposta. Eles passarão a fazer discussões, enfrentamentos de idéias. Novas informações serão necessárias e mais leituras na Internet serão realizadas. Uma experiência verdadeiramente construtiva. A mera reunião de informações, utilizando os comandos “Ctrl C + Ctrl V” do teclado do computador – respectivamente, “copiar” e “colar” – não daria conta da problemática apresentada, e no fim, entre assombros, risos e questionamentos, teremos a comprovação de que a Internet pode auxiliar, de forma lúdica e significativa, no ensino de História. E estaremos conscientes de que nossa ação deve ser motivada pelo questionamento, pelo trabalho coletivo e por uma postura crítica diante da máquina, boa fonte de informações quando temos uma trama a ser interpretada.

Antonio Germano Magalhães Junior é professor do curso de História da Universidade Estadual do Ceará.

Revista de Historia da Biblioteca Nacional

Um comentário:

  1. Excelente seu post. Meu desafio como professor tem sido esse: como superar o crtl C + crtl V e estimular a construção de conhecimento pelos alunos? A analogia das conexões, elemento central da rede internet, é muito elucidativa e propícia à reflexão. Obrigado.

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