quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

O Ensino da História nos primeiros ciclos do Ensino Fundamental: Breves Considerações

O Ensino da História nos primeiros ciclos do Ensino Fundamental: Breves Considerações

Ana Paula de Matos Oliveira1
Resumo:
A disciplina história, ministrada nos primeiros ciclos do Ensino Fundamental, tem como, principal, desafio para os alunos: refletir, analisar e problematizar a história enquanto parte integrante da vida de cada aluno, de forma a possibilitá-los uma compreensão sistemática e crítica da realidade. Esse artigo abordará algumas problematizações nesse percurso.
Palavras-Chave: História, Ensino, Séries Iniciais.

“(...) A tomada de consciência da perspectiva
histórica introduz um conhecimento absolutamente
importante para as gerações jovens: aprende-se que o
presente – o aqui e agora, que habitualmente é visto
como o único importante e decisivo – é algo
momentâneo e passageiro(...).”(Função Pedagógica
da História)

A disciplina história, ministrada nos primeiros ciclos do Ensino Fundamental, tem como, principal, desafio para os alunos: Refletir, analisar e problematizar a história enquanto parte integrante da vida de cada aluno, de forma a possibilitá-los uma compreensão sistemática e crítica da realidade.
Considerando a história como uma disciplina viva e elaborada a partir do presente, faz-se necessário re-pensar o seu ensino no interior dos acontecimentos da atualidade, identificando e refletindo sobre novos valores, possibilitando, desta forma, que as crianças compreendam o seu próprio papel no mundo partindo do envolvimento e análise daquilo que estão vivenciando.
Isto porque, o ensino da história não é contextualizado nas salas de aula. Percebe-se que de uma forma ou de outra que a história é tida como algo distante da realidade dos alunos, parece que está estática no passado. No entanto, sem dúvida, a história está presente na vida de cada indivíduo seria impossível não precisar desta palavra e isto se dá pelo fato da história ser viva, dinâmica, atual, pode-se se considerar que seja inerente à vida de cada indivíduo.
Sabe-se que a história se compõe de fatos articulados pela razão, é uma narrativa com um sentido lógico, onde interliga e liga a razão. E sendo a história formada por esta tecitura de razões, almeja por uma teoria universal, capaz de explicar todos os fatos e evento do passado, do presente e aqueles que virão, em sua totalidade, seguindo em conformidade com o objetivo ambicionado pela razão, que é alcançar uma racionalidade pura e livre de imperfeições.
No entanto, o próprio homem que tenta a todo momento racionalizar o real, não é neutro, ao contrário, ele tem sua maneira própria e única de ver e interpretar aquilo que o cerca, é um indivíduo com anseios, emoções.
Esta idéia de uma razão universal foi defendida pelos iluministas, que procuravam a perfeição da luminosidade racional completa e acabada; eles buscava a razão em sua transparência perfeita e luminosidade irreversível, uma razão cuja luz não projeta sombras, ela as elimina. Mas este ideal de razão é atacado pelo filósofo Kant, que considera tal como absurdo e inexistente.
Segundo Kant a razão não pode extinguir de si mesma toda a sombra, pois se isso acontecesse ela
própria desaparecia.
Como uma ação conservadora à filosofia do Iluminismo, a Revolução Francesa e à ocupação Napoleônica, aparece no final do século XVIII e início do século XIX.
O historicismo é uma corrente conservadora e, ás vezes, francamente reacionária. Ele defende que os fatos e os eventos se explicam por si só, rejeita, assim, toda e qualquer forma de inovação ou mudança.
Desta forma, com esta maneira de conceber o real e de pensar sobre ele, “nasce” o positivismo, que pregava que o conhecimento, para ser válido tinha que ser científico, ou seja, o conhecimento puro, transparente e perfeito, só se era possível quando um determinado pesquisador apenas descreve os fatos e eventos como eles os são, sem analisá-los ou refletir sobre eles. O conhecimento só teria valor lógico e racional caso o pesquisador não postule sobre aquilo que descreve, ele deve se limitar a descrição precisa, o juízo de valor é abominado.
Em meados do século XX surge uma nova forma de se conceber a história a chamada Nouvelle Histoire, trazida pelos Annales, ela associa a história às ciências sociais. A Nouvelle
Histoire não se prende aos fatos e eventos passados, não mais vê-se a história como um captação
de dados prontos, mas sim, como uma revolução, progresso, evolução, tentando a todo momento
implantar o futuro no presente, ressaltando a idéia que o presente é uma constante novidade.
Contudo, percebe-se que de uma forma ou de outra a história sempre esteve presente na evolução da realidade. Sem dúvida seria impossível não precisar desta palavra e isto se dá pelo fato da história estar presente em cada indivíduo, pode-se se considerar que seja inerente à eles.
A história estuda as transformações sociais e as permanências, e seu objeto de estudo é sempre uma determinada sociedade, composta por indivíduos ímpares que a fazem funcionar, que a estruturam e lhe dão razão de ser. Estuda-se uma sociedade em constante mutação, onde a todo
momento o real se forma e desforma, ou seja, a todo momento o conhecimento ou os conhecimentos se constroem e desconstroem para construir um novo, que irá ser desconstruído e assim sucessivamente.
Isto, evidencia que a história é, antes de tudo, um processo vivo e presente aqui e agora. Não é algo que está apenas no livro ou em detrimento intelectual de alguém, ela existe em todos os locais, em todos os âmbitos, na memória, na ação, reação e no viver de cada pessoa.
Para se compreender como a história, enquanto disciplina, tem sido entendida hoje, faz-se necessário captar, refletir e analisar a forma de ensino que se oferece nas instituições públicas e
privadas de educação.
O que se percebe são escolas conservadoras, basiladas no tradicionalismo que tende a construir e transmitir uma história desconexa, porém dita “globalizante”, como se fosse possível tratar de toda História da humanidade em um rol de fragmentos (história geral; do Brasil; medieval entre outras) reduzindo a história a apenas estes dados já prescritos.
O fato exposto não diz respeito a uma extinção ou depreciação de tais áreas da história, o problema está em reduzir a história à elas, generalizando as informações como uma teia que não
pode ser corrompida.
Esta forma tradicional e conteúdista de se trabalhar a história tem sido contestada e debatida entre historiadores e estudantes. Os debates em torno do docente de história evidenciam a preocupação de se propiciar uma abordagem interdisciplinar, sem contanto que a história perca sua especificidade.
A revolução tecnológica e a midiatização deste século, trouxe novas exigências para a educação. Com isto, tem-se a implantação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, em 1996, implanta-se, também, os Parâmetros Curriculares Nacionais para todos os níveis do ensino.
Os Parâmetros Curriculares Nacional (PCN) para o ensino da história trazem a tona a
necessidade de uma postura mais pedagógica dos docentes de história. Os PCN expressam anecessidade de se integrar o ensino da história com o cotidiano do aluno, objetivando a educação
para a cidadania, inserindo a escola nos acontecimentos da sociedade.
Um ponto que merece destaque nos PCN é a questão da pesquisa ação, isto é, considerar a prática pedagógica como um momento importante de pesquisa, onde as atividades e avaliações realizadas possam projetar e desencadear novos propostas e caminhos inovadores para usa prática.
Percebe-se um comprometimento com o aluno como sujeito da educação. Pretende-se partir das experiências do aluno, para que o mesmo possa compreender e apreender os fatos, mas não de forma passiva, mas sim participativa, onde todos na sala de aula e na própria escola colaboram para a construção do conhecimento.
Os PCNs distinguem o Saber Histórico produzido nas Universidades, daquele produzido nas escolas. O saber histórico escolar elabora uma reflexão e análise sobre o saber histórico produzido nas Universidades, onde se tem o objetivo de acoplar às análises e as experiências vividas pelos alunos e professores, de forma a integrar estes dois saberes. A escolha de conteúdos
que expressem o tempo presente possuem materialidades e possibilidade de mentalidades que permitem os alunos compreenderem melhor a presença de outros tempos.
Desta forma, os PCNs, não desprezam o conteúdo da disciplina história, tão menos os livros didáticos, o que se pretende é utilizar as informações da atualidade para assim, possibilitar que o professor seja um mediador no processo de construção do conhecimento de seus alunos.
Em meio ao dilúvio de informações, que se tem no mundo moderno, juntamente com a incorporação das diferentes linguagens (televisão, rádio, cds, jornais, revistas, entre outros) ainda
persiste nas escolas a mania por aulas puramente livrescas, onde os professores “despejam” para
seus alunos uma série de informações, muitas vezes, desconectadas e acabadas e cabe o aluno, apenas, consumir tudo que lhe é transmitido passivamente. Muitas vezes, o que os professores de história transmitem a seus alunos são conteúdos já cristalizados dentro do ensino da história e
totalmente descontextualizada da vida do aluno.
Tais considerações, não pretendem afirmar que os livros didáticos não devem ser utilizados nas aulas de história, pelo contrário o que se discute é como se utilizar este livro em sala de aula com os alunos.
Quando um professor utiliza um livro didático como única fonte de dados verdadeiros e não permite questionamentos ou análises vindas por parte dos alunos, ele está excluindo este aluno da sua própria história, ou seja, o aluno fica impossibilitado de chegar a pensar ou questionar sobre sua própria história de vida. Para este aluno a história não passará de meros escritos de um livro, ele não se considerará um sujeito desta história, um agente histórico.
Pode-se perguntar: _ Mais o que interessa para a história, se não o que está nos livros?
O aluno deve ser conduzido pelo professor para que possa compreender o tempo histórico, as transformações e mutações da realidade. O professor deve ser um mediador, que ensinará o aluno a estudar de forma a poder vir a compreender a própria realidade que lhe cerca, a questionar o mundo a seu redor, a não ter preguiça de exercer o senso crítico.
O professor de história deve utilizar os livros sim, no entanto ele deve auxiliar os alunos e aguçá-los a fazer uma leitura diferente; deve estimular que os alunos questionem o que está escrito; deve utilizar outras fontes de dados e materiais como a TV, revistas, músicas para que, assim, permita um olhar diferente sobre aquela história.
A história deve ser vista e entendida como um processo dinâmico em constante mutação, onde cada indivíduo é parte integrante desta história, bem como co-responsável por ela. Tal conhecimento, permite as crianças questionarem a realidade em que vivem, organizarem seu pensamento quanto ao seu estar no mundo, sob as possibilidades de transformações, entre outros.
Cabe ao professor de história, planejar suas aulas de acordo com o que é vivido pelos alunos, deve contextualizar os acontecimento passados no presente, deve pensar em conjunto com seus alunos. Os alunos devem ser estimulados a utilizar questionamentos, Como? Porque? Para que?
Desta forma o ensino de história estará estimulando e ajudando o aluno a interagir com o mundo que o cerca, adquirindo uma capacidade de visualizar o que está em sua volta de uma nova forma, não sendo mais um receptor passivo de informações.
O ensino de história, e conseqüentemente, os professores, de história, deve combater o que Paulo Freire chama de “Educação Bancária” onde o conhecimento é colocado pronto e acabado dentro dos alunos.
Deve-se auxiliar a criança a construir o seu pensamento, seus argumentos. Acredito que desta forma teremos, futuramente, adultos ou posso dizer universitários mais críticos, mais conscientes do que se passa no mundo, em seu país, em sua cidade. Universitários que realmente se comprometam com a Universidade e com a sociedade, e mais ainda se comprometam com as pessoas que formam este todo que é realidade, saindo um pouco do individualismo e sendo mais solidários e humanos.


Referências Bibliográficas
Educar para a Cidadania através do estudo da história – “Educando para a Cidadania – Os Direitos Humanos no Currículo Escolar” – (mimeo).
NADAI, Elza. O ensino de História e a “Pedagogia do Cidadão”. (mimeo)
NOVA, Cristiane. Vídeo, História e Educação. Oficina-Cinema-História: Núcleos de Pesquisa e
Produção de Vídeos Históricos. Departamento de Mestrado em História; Faculdade de Filosofia e
Ciências Humanas – UFBA.
Revista Nova Escola. O que as cidades tem a ensinar. Setembro, 2001.
RUIZ, Rafael. Função Pedagógica da História. Artigos CEVEH.
.
SOARES, Magda Becker. Livro Didático: uma história mal contada. Agosto, 1997.
.
Recebido em: 01.11.2002/ Aprovado em: 16.11.2002.
1 Graduanda em Pedagogia pela Faculdade de Educação da Universidade de Brasília (UnB).

Revista de Pedagogia - UNB

2 comentários:

  1. Excelente! um espaço especial de aprendizagem.
    Parabens pela ideia e disponibilidade; vou virar tiete (risos).
    Guacira maciel

    ResponderExcluir
  2. O texto é muito bom, mas eu ainda não consigo compreeder bem,faço o normal médio, e estou com dificuldade na disciplina de Didática da Históri, sera que não dava pra ter um texto mais siplificado.
    Zuleide PE email.zuleideserafim@hotmail.com

    ResponderExcluir

Os maiores mitos sobre o cérebro dos adolescentes

Nas últimas duas décadas, os cientistas conseguiram mapear as mudanças neurais verificadas ao longo desse período central do desenvolvimento...