quarta-feira, 18 de setembro de 2013

A força do diálogo

Defender opiniões é importante, mas sem agredir ou ofender o outro. É imprescindível saber dialogar, o que pressupõe o equilíbrio entre falar e ouvir

Eduardo Shinyashiki


É normal encontrarmos nas empresas pessoas que querem impor sua opinião e ter razão a qualquer custo, criando mal-estar no contexto profi ssional. Quantas vezes nós mesmos, tendo em mente o nosso trabalho, pensamos na imagem de um ringue de boxe onde lutas acontecem?

Mas querer ter sempre razão tem limite? Aquele que diz o que pensa a qualquer custo, dando a sensação de imposição, tende a criar confl itos no ambiente em que trabalha, não gera cooperação e integração com os colaboradores na empresa e com a própria equipe. O indivíduo acaba utilizando o julgamento e a crítica na sua comunicação, em vez da compreensão e do diálogo.

Portanto, reagir agressivamente na defesa da opinião e entrar em confl ito não levam a resultados positivos. Entrar em uma discussão com uma atitude mental de "eu ganho", "você perde", "eu tenho razão", "você está errado", "eu falo" e "você fi ca calado", claramente, não ajuda a desenvolver boas relações. A base da conversa saudável é conseguir se comunicar e criar vínculos gratifi cantes com as pessoas. Para isso, a tolerância, a abertura ao diálogo e a aceitação do outro são fundamentais.

Qual é o ponto de equilíbrio, então, para poder defender nossas opiniões e fazer com que sejam respeitadas sem ser agressivo demais? O limite de uma atitude saudável para defender ideias é quando a conversação produtiva acaba e se instaura uma batalha para impor o que se pensa e a própria imagem, faltando respeito ao interlocutor e tornando a interação autoritária, inconcludente e destrutiva.

Saber expressar e defender opiniões e pontos de vista sem agredir ou ofender o outro, mas também agir com assertividade e saber "dialogar", pressupõe o equilíbrio entre falar e ouvir dos interlocutores, como nos mostra o signifi cado da palavra "diálogo", em que dia quer dizer "através", e logos, "palavra". Resumindo, é a palavra que passa e se movimenta entre as partes envolvidas que interagem, permitindo um aprendizado colaborativo.

Ele é uma das formas mais importantes de interação entre as pessoas e permite abrir a mente a outras maneiras de pensar e a novos conhecimentos. Mostra-nos, também, como sentir e ver o mundo de diferentes jeitos, colocando em confronto diálogos mentais e fortalecendo a consciência de si mesmo e do outro. Porém, ao mesmo tempo, ele é um processo delicado, pois a tendência da nossa mente é de se apegar às próprias opiniões e defendê-las, difi cultando a conversa e criando o confl ito.

A BASE DA CONVERSA SAUDÁVEL É CONSEGUIR SE COMUNICAR E CRIAR VÍNCULOS GRATIFICANTES COM AS PESSOAS. PARA ISSO, A TOLERÂNCIA, A ABERTURA AO DIÁLOGO E A ACEITAÇÃO DO OUTRO SÃO FUNDAMENTAIS

Nesse sentido, podemos evidenciar alguns pontos de refl exão para atingir a qualidade desejada no diálogo, ser assertivos e conseguir um verdadeiro debate: - Atenção às comunicações verbal e não verbal. Usar palavras que demonstrem confi ança em si mesmo e no outro, evitando julgamentos em relação ao interlocutor, ordens e ofensas, é tão importante como utilizar a fl exibilidade comunicativa, ou seja, se fazer entender e se adaptar ao contexto do outro. Cuidado com o tom de voz, o volume, as expressões do rosto, os gestos, pois a linguagem corporal tem um papel decisivo no resultado do diálogo.

- Não interromper o interlocutor no meio de um pensamento e mostrar interesse pelo que a pessoa está dizendo são elementos que mantêm viva a conversa.

- Ouvir as opiniões do outro cria empatia e abertura ao diálogo. Procurar entender quais os seus objetivos e desejos diminui possíveis divergências e fatores de confl ito interpessoal.

- Ter clareza, ser direto e honesto na exposição dos pontos de vista, permitindo ao interlocutor compreender as nossas opiniões.

- Ser gentil na comunicação. Lembrando que ser assertivo não significa ser agressivo, mas saber o que se quer, se expressando de forma respeitosa, clara e efi caz. Atitudes gentis criam um clima positivo e sereno, além de ser a expressão de força e segurança interiores.

Podemos concluir que é possível criar um diálogo efetivo, objetivo, sem perder o limite da razão, sem humilhar, ofender ou desqualifi car o outro, expressando as próprias ideias, e que tem como pressupostos principais o respeito ao interlocutor e uma atitude interna de autoestima e autoconfi ança.

A pessoa com essas duas qualidades consegue se relacionar melhor com os outros sem medo de se confrontar consigo mesma e com os demais, sem se tornar presunçosa e arrogante na comunicação.

O desenvolvimento dessas características nasce do confronto entre si mesmo e do mundo ao redor. Tendo mais consciência de quem é você e do que se quer, há a possibilidade de defender ideias de forma clara e adequada, utilizando o diálogo que, por sua estrutura intrínseca, considera sempre o bem de todas as partes envolvidas.



Eduardo Shinyashiki é consultor organizacional, escritor e especialista em Desenvolvimento das Competências de Liderança e Preparação de Equipes. Especializado em Preparação Psicológica de Equipes de Alto Rendimento com o dr. Octavio Rivas Solis e em Leitura Corporal com o dr. José Angelo Gaiarsa.
www.edushin.com.br
Revista Psicologia

Um comentário:

  1. Acredito que a base de um diálogo saudável, assim como muitas outras coisas têm aí suas raízes, é uma educação de qualidade. Uma educação não-diretiva. Começa na escola, na casa, nas relações intra-pessoas do sujeito desde criança, desde a sua construção como sujeito.
    A educação que introjeta no sujeito verdades irrefutáveis pelo aluno, tidas como verdades absolutas, por professores (e não só eles, mas a instuição e o sistema de um modo geral), que impõe, dita.
    A base do respeito está na conversa com diálogo. Mas ainda temos a falta de um diálogo em vários âmbitos da vida do sujeito.
    Ótimo texto e apontamentos.
    Abs,
    Gabriel.

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